KARDEC E OS EXEMPLOS DE GERAÇÃO ESPONTÂNEA

Em  1868, como vários pensadores  de sua época, Allan Kardec acreditava que microrganismos e animálculos pudessem ser criados por geração espontânea.

Em julho daquele ano, Kardec escreveu um artigo na REVISTA ESPÍRITA citando vários fenômenos que poderiam ser explicados pela geração espontânea.

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Abaixo, seguem as verdadeiras explicações científicas para esses fenômenos. As suposições de Kardec estão em negrito.

PRIMEIRO FENÔMENO

“O mofo nos parece ser (…) um  dos primeiros tipo de vegetação espontânea …”

Mofo ou bolor é o nome popular dos fungos Penicilium, Aspergillus, Mucor e Rhizopus, cujas minúsculas sementes — chamadas de esporos na linguagem cientifica — são disseminadas pelo ar e por outros vetores.

SEGUNDO FENÔMENO

“… essa vegetação espontânea (…) nos dá os líquens, os musgos, etc”

Os líquens são fungos associados com algas. Os musgos são os vegetais mais simples da escala filogenética do reino vegetal.

A reprodução dos líquens e dos musgos é idêntica à reprodução dos fungos.

TERCEIRO FENÔMENO

“Que são os cabelos, a barba e os pelos do corpo dos animais, senão uma geração espontânea?”

Os pelos são hastes de uma substância orgânica chamada queratina e são produzidos em bulbos situados em invaginações da pele.

QUARTO FENÔMENO

“Quando o animal está morto (…) se vêem todos os tecidos invadidos (…) por miríades de vermes (…). Como seriam procriados, desde que antes não houvessem os seus traços?”

Os cadáveres são decompostos por reações bioquímicas, pela flora cadavérica (bactérias e fungos) e pela fauna cadavérica (insetos e outros animais).

Quando o corpo está inumado, a fauna cadavérica é diminuta, composta por uma pequena quantidade de insetos  que conseguiram chegar ao defunto.

No entanto, quando o corpo está insepulto, a fauna cadavérica é extremamente  numerosa e diversificada, especialmente quanto à presença de insetos e larvas de insetos.

Além de se alimentarem da carne morta, esses insetos depositam seus ovos nos corpos em decomposição, assegurando a subsistência de sua prole.

Sendo assim, os animálculos vermiformes encontrados em cadáveres inumados ou insepultos são sempre larvas de insetos.

Os animálculos vermiformes que parasitam os animais e os seres humanos são chamados de platelmintos e nematelmintos e falecem com a morte do hospedeiro.

QUINTO FENÔMENO

“Objetarão (…) que são os ovos das moscas na carne morta, mas isso nada provaria porque os ovos das moscas são depositados na superfície e não no interior dos tecidos”

A presença de larvas em cadáveres insepultos é facilmente entendível, mas como se explica o aparecimento desses animálculos vermiformes em corpos inumados?

Segundo o médico-legista Flamínio Fávero (MEDICINA LEGAL, Editora Martins, 1962, Volume 2, página 148), isso não é difícil de explicar.

No velório, moscas, atraídas pelo cheio de matéria orgânica em decomposição, imperceptível para nós, mas altamente perceptível para esses insetos, colocam seus ovos sobre os cadáveres ou dentro dos caixões.

Por outro lado, não podemos esquecer que a vulnerabilidade das sepultura e urnas funerárias também concorre para o assédio de insetos após a inumação do defunto (DECOMPOSIÇÃO, C.F. Mason, Editora da USP, 1980, página 46).

Como já expliquei, os animálculos vermiformes chamados de platelmintos e nematelmintos não fazem parte da fauna cadavérica.

SEXTO FENÔMENO

“… a carne, posta ao abrigo das moscas, ao cabo de certo tempo, não está menos pútrida e cheia de vermes …”

A hidrólise dos tecidos e a ação das bactérias e fungos putrefazem a carne. Sendo assim, a putrefação da carne independe da ação dos insetos.

Os “vermes” citados por Kardec são larvas de insetos, pois os ovos dos animálculos vermiformes chamados de platelmintos e nematelmintos só eclodem dentro de hospedeiros vivos.

SÉTIMO FENÔMENO

“Certas espécies de vermes se formam durante a vida (…). Sua formação bem podia ser devida a uma geração espontânea (…). É verdade que se poderia supor que os germens dos vermes intestinais sejam introduzidos (…) com o ar que se respira e com os alimentos (…). Mas (…) surge uma outra dificuldade: por que nem todo mundo tem solitárias (…) quando a alimentação e a respiração em todos produzem efeitos fisiológicos idênticos.”

Os animálculos vermiformes chamados de platelmintos e nematelmintos são introduzidos nos corpos humanos através de ovos.

A contaminação acontece de várias maneiras: contato com pessoas parasitadas, alimentos mal cozidos, água contaminada, pés descalços, contato com hospedeiros intermediários e insetos.

Nem todas as pessoas são parasitadas por platelmintos e nematelmintos porque não são contaminadas.

OITAVO FENÔMENO

“Poderia dar-se o mesmo com os vermes do queijo, o ácaro da sarna e numa porcão de animálculos que podem nascer no ar, na água e nos corpos orgânicos”

Os “vermes” que aparecem nos queijos são larvas da chamada mosca-do-queijo, cujo nome científico é Piophilidae casei.

Os ácaros são microscópicos aracnídeos que se reproduzem de forma sexuada. O ácaro da sarna pertence ao gênero Sarcoptes scabiei.

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A teoria da geração espontânea só foi sepultada definitivamente pelo físico John Tyndall em 1876, pois o experimento de Louis Pasteur em 1862 não foi conclusivo .

Sendo assim, Kardec não cometeu um equívoco científico ao defender a geração espontânea em 1868.